27 setembro, 2023

The Art of Asking - A book review, or something like that

I wrote this review to Amanda Palmers book years ago, when it was published, but I don’t think I ever posted it anywhere. Also, it is not a proper review, it is more personal than that, but anyway, I wanted it to see the light of day:


The Art of Asking
Ok, I have a confession to make before I start talking about Amanda Palmer’s book, “The Art of Asking”.
The confession is that a few years ago I did not know who Amanda Palmer was. I believe I heard about The Dresden Dolls, but never actually listened to a song, so I really did not realized who she was when I “met” her as the beautiful wife of one of my favorite authors. Following Neil Gaiman on Twitter, I “found” her, probably in some RT from him, was curious about the things she said, and started following her.
The second part of the confession is that, when I first learned from her tweets that she was writing a book called the “The Art of Asking”, I was interested because I thought about the art of constructing a good question to ask. You see, in my native language, Portuguese, “to ask a question” and “to ask for something” are two completely different words, and I had never watched Amanda's TED talk, so I went with the first meaning of asking translated to my language: “perguntar”.
That is actually a book I would read, gladly. Since my early school years I am haunted by the fact that the questions I ask get completely strayed answers, not related to what I asked and I never understand why. The “art of asking a question” is very intricate if you ask me; I really would dig that book. Maybe I should write that book so I try to learn how to ask questions?
Anyway, I digress. Eventually, I was directed to Amanda’s TED talk, and understood what kind of asking she was talking about, and that did not lessen my interest in reading her book. By then, I was already interested in her thoughts, and feeling part of her "group". Therefore, as soon as the book was out, I got my copy and started reading it.
It is a beautiful book, a pleasure to read, very intimate. I like the way she pours out her feelings and inner thoughts while giving us a view of her life. Is it a memoir, a biography, a focused whitepaper on crowd(funding, surfing, sourcing, living)? I could not label it, but I am not a critic, only a reader, who was very pleased to read it, and a little sad when it ended. Yes, it is the kind of book that you wish would not end. 
The content actually did not resonate with me initially. If I was a rude person, I could be one of the passersby that shouted “get a job” to her as a living statue. I am not proud of saying that, but living statues always bothered me, and the feeling was exactly ‘why is this guy/girl standing there instead of working, and expecting that I give him/her money for just standing there?’ I would never actually shout, but you know what I mean, but I am ashamed these might have been my thoughts if I lived in Boston and passed by ‘The Bride’. Did Amanda Palmer's book changed the way I feel about buskers? Yes, it surely made me think, see them with a new light, actually, now I “see” them. 
The main point for me is exactly the fact that a few years back, I would dismiss everything she is saying in the book, and now I can actually (try to) relate to it, (try to) understand where that comes from. In some levels, I think Amanda and I have a lot in common, although we have nothing in common.
I was raised to have a career and ‘get a job’, and art was not a job. I always loved to write, but I never thought about writing as a profession. I thought about majoring in Journalism, but was discouraged by the “you’ll never earn enough money as a journalist” mantra. 
Anyway, after a lifetime of “having a job”, I found myself jobless and having to (wanting to) reinvent myself. That is when I became a translator. In the years I was "having a job" I never abandoned the things I love: reading, studying literature and languages and – a little – writing. That is why I was prepared. I got a formal training in translation and today I am a part of the creative world, the people who might hear “get a job”.  I don't have an employer, an office to go to (other than the one inside my home), no formal “job” structure whatsoever. Get a job, Cassia!
So, reading Amanda Palmer’s book was important for me to open my mind wider to the fact that all that I grew up thinking was the only “right” way to live: formal work, fixed salary, fixed office hours – is not necessarily so, and I don’t need to feel bad for having a different life nowadays.
I don’t think I am already able to ask for what I need (the main point of the book, actually). I still have my inner blocks about “being independent”; “not needing anyone’s help”… But what I really wanted to say about her book is that it is honest. And honesty brings out honesty. 
I see you, Amanda.


17 setembro, 2023

A invisibilidade da tradução

Quando eu me decidi pela transição de carreira, a primeira coisa que busquei foi um curso específico na área. Muitas pessoas consideram que “saber inglês” (ou qualquer segundo idioma) é suficiente para entrar na área de tradução, e as coisas não são tão simples assim. A crença comum sobre a profissão, é que “sabendo inglês”, você pode sair traduzindo à vontade e tem tanta coisa envolvida, vícios de linguagem, erros perpetuados em traduções literais, contexto, realidade cultural. É uma arte.

E isso, na verdade, derruba a crença do "é só saber inglês". Eu considero, na verdade, que o mais importante no processo é saber o português. Isso mesmo, pasmem, para ser tradutor, você tem que ser excelente em português e não em outro idioma qualquer. É óbvio que você tem que conhecer um segundo idioma (no mínimo), mas esse realmente não é o seu foco e nem é onde seus maiores esforços devem estar, e sim, no seu próprio idioma.

Uma pergunta comum quando falo que sou tradutora é: Juramentada? O contato mais comum das pessoas com a necessidade de uma tradução é quando ela é necessária para emitir algum visto, traduzir documentos (do português para outro idioma) e, nesses casos, você precisa de um tradutor juramentado. Mas há muito mais mercado na profissão do que a tradução juramentada. 

A começar pelo literário, claro. Muitos livros que você lê foram escritos em outro idioma, e você nem lembra disso. Sabe quem é o autor do livro, mas você nem sempre presta atenção em quem foi que permitiu que você esteja lendo o livro: o tradutor.

Ou, entrando na área em que eu trabalho mais, você reserva sua passagem aérea, sem imaginar que o site foi escrito em outro idioma e chega a você em português porque passou por um tradutor, você escolhe seu hotel na Europa em um site em português, sem pensar em como aquele site de um hotel em Paris foi escrito em seu idioma (ou seja, não foi....).

A verdade é que a tradução está presente em nosso cotidiano muito mais do que imaginamos ou paramos para pensar. Eu costumo me ver como uma ponte. Eu sou uma ponte entre o fabricante de um produto e seu consumidor brasileiro, sou uma ponte entre o hotel na Inglaterra e o feliz viajante brasileiro a caminho, uma ponte entre o operário brasileiro da multinacional e o programa de treinamento concebido nos Estados Unidos.

Eu gosto de ser uma ponte.

 

29 março, 2020

Uma carta da Itália para o Reino Unido: isto é o que sabemos sobre o seu futuro - por Francesca Melandri


Hoje me deparei com esse texto da autora italiana Francesca Melandri, dirigida aos ingleses, dizendo que ela está mandando um “recado do futuro” para eles.
Eu poderia ter escrito para vocês, meus amigos brasileiros, pelo menos 80% do que ela está dizendo aqui. Não é polêmica, não é político, não tem nada a ver com parar ou não parar. É simplesmente sentimento sobre o que estamos vivendo hoje aqui na Itália.

O link para o texto original está aqui (The Guardian-Original in English), mas decidi traduzir para o português também, abaixo a tradução com todos os créditos.

Uma carta da Itália para o Reino Unido: isto é o que sabemos sobre o seu futuro

Uma autora em Roma descreve o que esperar com base nas suas experiências de isolamento

Francesca Melandri
Tradução: Cassia Afini

A aclamada escritora italiana Francesca Melandri, que está em quarentena em Roma há quase três semanas devido ao surto de Covid-19, escreveu uma carta aos colegas europeus "do seu futuro", expondo a diversidade de emoções pelas quais as pessoas provavelmente passarão nas próximas semanas.

Eu estou na Italia escrevendo para vocês, o que significa que eu estou escrevendo do futuro. Estamos agora onde vocês estarão em alguns dias. Os gráficos da epidemia mostram-nos todos entrelaçados em uma dança paralela.

Estamos apenas alguns passos à sua frente no percurso do tempo, tal como Wuhan estava algumas semanas à nossa frente. Vemos vocês agirem como nós mesmos agimos. Vocês defendem os mesmos argumentos que nós defendíamos até há pouco tempo, entre aqueles que ainda dizem "é só uma gripe, porque a histeria"? e aqueles que já entenderam.

Enquanto observamos vocês daqui, do seu futuro, sabemos que muitos de vocês, como foram orientados a se fecharem em suas casas, citam Orwell, alguns até Hobbes. Mas logo vocês estarão muito ocupados para isso.

Primeiro, vocês vão comer. Não apenas porque será uma das poucas coisas que vocês ainda poderão fazer.

Vocês encontrarão dezenas de grupos nas redes sociais com tutoriais sobre como passar seu tempo livre de maneira proveitosa. Vocês participarão de todos, depois de alguns dias os ignorarão completamente.

Vocês vão pegar a literatura apocalíptica de suas estantes, mas logo perceberão que não têm vontade de ler nada disso.

Vocês vão comer de novo. Você não dormirão bem. Vocês se perguntarão o que está acontecendo com a democracia.

Vocês terão uma vida social on-line incessante - no Messenger, WhatsApp, Skype, Zoom...

Vocês sentirão falta dos seus filhos adultos como nunca sentiram antes; a percepção de que vocês não têm ideia de quando os verão novamente vai bater como um soco no peito.

Os velhos ressentimentos e desentendimentos vão parecer irrelevantes. Vocês vão telefonar para as pessoas com quem juraram nunca mais falar, para perguntar: “Como você está?”

Muitas mulheres vão apanhar dentro de suas casas.

Vocês pensarão no que está acontecendo com todos aqueles que não podem ficar em casa porque não têm uma casa.

Vocês se sentirão vulneráveis ao sair para fazer compras nas ruas desertas, principalmente se você é uma mulher.

Vocês vão se perguntar se é assim que as sociedades entram em colapso. Isso realmente acontece tão rápido?

Vocês vão bloquear esses pensamentos e quando voltarem para casa vão comer novamente.

Vocês vão ganhar peso. Vocês vão procurar treinos de exercícios físicos on-line.

Vocês vão rir. Vocês vão rir muito. Vocês vão ostentar um humor negro que nunca tiveram antes. Mesmo as pessoas que sempre levaram tudo muito a sério, vão contemplar o absurdo da vida, do universo e de tudo isso.

Vocês marcarão encontros nas filas de supermercado com seus amigos e queridos, de modo a vê-los pessoalmente por breves instantes, respeitando as regras de distanciamento social.

Vocês vão contar todas as coisas das quais não precisam.

A verdadeira natureza das pessoas ao seu redor será revelada com total clareza. Vocês terão confirmações e surpresas.

Intelectuais que eram omnipresentes nas notícias desaparecerão, suas opiniões subitamente irrelevantes; alguns se refugiarão em racionalizações que serão tão totalmente desprovidas de empatia que as pessoas deixarão de escutá-las. Pessoas que vocês haviam negligenciado, ao contrário, se mostrarão tranquilizadoras, generosas, confiáveis, pragmáticas e visionárias.

Aqueles que convidarem vocês a verem toda essa confusão como uma oportunidade de renovação planetária ajudarão vocês a colocar as coisas em uma perspectiva maior. Vocês também os acharão terrivelmente irritantes: legal, o planeta está respirando melhor por causa da redução das emissões de CO2 pela metade, mas como vocês pagarão suas contas no próximo mês?

Vocês não entenderão se testemunhar o nascimento de um novo mundo é algo grandioso ou lamentável.

Vocês vão tocar música das suas janelas e de seus jardins. Quando vocês nos viram cantando ópera de nossas varandas, pensaram "ah, aqueles italianos". Mas sabemos que vocês também cantarão canções inspiradoras uns para os outros. E quando vocês tocarem bem alto “I will survive” das suas janelas, nós vamos observá-los e acenar como o povo de Wuhan, que cantou de suas janelas em fevereiro, acenou enquanto nos observava.

Muitos de vocês vão adormecer jurando que a primeira coisa que farão assim que a quarentena terminar é pedir o divórcio.

Muitas crianças serão concebidas.

Suas crianças terão aulas on-line. Elas serão irritantes, elas serão sua alegria.

Os mais velhos vão desobedecer como adolescentes desordeiros: vocês terão que brigar com eles para proibi-los de sair, de se infectar e de morrer.

Vocês vão tentar não pensar nas mortes solitárias dentro dos centros de terapia intensiva.

Vocês vão querer cobrir com pétalas de rosa todos os passos dos trabalhadores de saúde.

Será dito a vocês que a sociedade está unida em um esforço comunitário, que vocês estão todos no mesmo barco. Isso será verdade. Esta experiência mudará para sempre a forma como vocês se veem como parte individual de um todo maior.

A classe, no entanto, fará toda a diferença. Estar fechado em uma casa com um lindo jardim ou em um projeto habitacional superlotado não será a mesma coisa. E também não é a mesma coisa poder continuar a trabalhar de casa ou ver o seu trabalho desaparecer. Aquele barco no qual vocês estarão navegando para derrotar a epidemia não parecerá o mesmo para todos nem é realmente o mesmo para todos: nunca foi.

Em algum ponto, vocês perceberão que é difícil. Vocês terão medo. Vocês falarão sobre seus medo com as pessoas que vocês amam, ou guardarão dentro de vocês para não sobrecarregá-los também.

Vocês vão comer novamente.

Nós estamos na Italia e isto é o que sabemos sobre seu futuro. Mas é apenas uma adivinhação em pequena escala. Nós somos videntes muito comedidos.

Se olharmos para o futuro mais distante, o futuro que é desconhecido tanto para vocês como para nós, só podemos dizer isto: quando tudo isto acabar, o mundo não será o mesmo.

© Francesca Melandri 2020

25 setembro, 2014

Feminismo, o palavrão

Preciso fazer uma confissão antes de falar sobre feminismo. Eu também já neguei ser feminista, já associei feminismo a algo agressivo, ruim e extremista. Eu precisei tomar conhecimento de agressões terríveis contra mulheres pelo simples fato de serem mulheres, e precisei ler e entender melhor para me libertar do que a sociedade machista quer que acreditemos: que feminismo é algo feio, que “essas mulheres” não tem nada que reivindicar direitos, ou o popular: “tá faltando louça para lavar”.
A grande verdade é que somos, como sociedade, machistas. E é essa mentalidade machista que marginaliza o termo feminismo. Feministas já foram, quando necessário, as mulheres que queimavam sutiãs nas ruas. Hoje, feministas somos (devemos ser) todos nós, homens e mulheres. Porque ser feminista é simplesmente concordar com algo muito simples que ninguém que conheço admitiria em voz alta que não concorda: Homens e mulheres têm direitos e deveres iguais. Básico, simples, humano e importante. Ser feminista não é ser “contra os homens”.
Mas também é saber que homens não são donos de mulheres, o trabalho da mulher não vale menos que o do homem, o papel da mulher na sociedade não é menor do que o do homem. A mulher não precisa ser recatada, submissa ou dependente para ser feminina. A mulher não precisa se vestir de certa forma para ser respeitada, agir dessa ou daquela maneira para ser digna, ter este ou aquele papel para ser mulher. Uma mulher é um ser humano, e está na hora de nos libertarmos de estereótipos e entendermos isso.

Enfim, estou aqui hoje para falar um palavrão para vocês: feminismo. Estou me posicionando: Sou feminista. Mas a questão não é uma palavra, é um movimento.

E para comemorar, traduzi o texto de um discurso importantíssimo que a atriz Emma Watson fez na semana passada na ONU, Lançando a campanha #EleparaEla e convidando os homens para serem também feministas.

A minha tradução, não oficial, feita por minha própria conta, risco e vontade, está aqui
O texto original está aqui
O vídeo do discurso aqui

E mais importante, o site da campanha, principalmente para meus amigos homens participarem, está aqui: http://www.heforshe.org/

The Art of Asking - A book review, or something like that

I wrote this review to Amanda Palmers book years ago, when it was published, but I don’t think I ever posted it anywhere. Also, it is not a ...