22 agosto, 2014

Ajude quem você quiser, do jeito que quiser. Ou: Quando foi que ficamos tão chatos?

Se a pessoa apoia causa dos animais abandonados, devia se preocupar com crianças abandonadas, se apoia uma doença especifica, deveria apoiar outra, ou – pior – “só está querendo aparecer”.

Quando foi que ficamos tão chatos, e nos sentindo no direito de patrulhar até as boas ações do outro?

Sim, o que me levou a escrever isso foi a movimentação em relação ao “ice bucket challenge” ou “desafio do balde de gelo” que tem o objetivo de dar visibilidade a uma doença rara, pouco conhecida e incentivar doações para garantir a pesquisa, dado que, por ser rara, não tem pesquisas patrocinadas pela iniciativa pública.

E toda a brincadeira está divertidíssima, desde o Mark Zuckeberg desafiando Bill Gates que aceitou e fez uma engenhoca com direito a projeto usando comic sans!!!!, famosos e famosas fazendo o desafio com camiseta branca ou sem camisa até o troféu do US Open (que começa em 3 dias – yay!) levando gelo na cabeça e desafiando outros troféus, a Copa do Mundo da FIFA entre eles. Isso fora os hilários vídeos de não famosos e seus “fail ice bucket”.

Ou seja, uma coisa divertidíssima, que a ALS Association já divulgou que aumentou sim, e muito a arrecadação e mais: toda a bagunça está levando as pessoas a se perguntarem: mas o que é esclerose lateral amiotrófica?
Enfim, o objetivo da campanha é esse: aumentar a arrecadação para pesquisa e aumentar a visualização da doença.
Aí, os seres humanos em vez de darem risada, entenderem (ou não) a doença e seguirem em frente, não. Eles têm que reclamar. Porque claro, só eu que sei quem deve fazer qual campanha para qual problema...

Lista dos #mimimis que já li:

Desperdício de água – Ok, estamos com problemas de abastecimento. Mas o banho de 15 minutos que você toma gasta muito mais água que um balde na cabeça e não ajuda ninguém. A menos que você esteja realmente fazendo uma ação muito séria para economizar água, não permito que use esse mimimi. Próximo.

Eles só querem aparecer – Se os famosos que aderiram, com esta atitude melhoraram sua imagem de alguém com bom coração, QUAL É O PROBLEMA? O objetivo é chamar a atenção, quanto mais famosos fizerem, melhor. Se com isso eles também tiverem exposição, e daí, isso prejudica quem? Próximo.

Mas quem garante que eles estão doando? Bem, aí eu digo 2 coisas: Desculpe, não sabia que você era auditor da ALS Association e a segunda é que, mesmo que fosse verdade, o que é muito difícil porque estamos falando de pessoas para quem alguns dólares não farão falta, AINDA ASSIM eles estão ajudando, dando exposição para a campanha e eventualmente incentivando as doações dos anônimos. Próximo.

Tem coisas mais importantes, doenças mais graves, causas mais justas para apoiar. E é você quem decide qual causa é mais importante e quem deve doar para cada uma?

A doença é rara, afeta poucas pessoas, não precisa de pesquisa. OPA, essa é a mais grave que já li. Como assim? Agora você decide quem merece viver? Ah, não, você tem uma doença rara, fica no seu cantinho aí, definhando, vamos cuidar de outras doenças mais populares. Aliás, esse argumento é o pior de todos porque é EXATAMENTE porque a doença é rara que ela precisa desse fuzuê todo para ficar visível, para que as pessoas se preocupem e entendam. Horrível você pensar que alguém merece sofrer e morrer só porque poucos serão atingidos (e a propósito, a doença não tem nenhuma causa conhecida, qualquer um pode ser o próximo).

Enfim, o que não entendo mesmo é o motivo de alguém sair de seu caminho para CRITICAR alguém que está querendo fazer uma coisa positiva. Vamos combinar o seguinte? Ao invés de criticar essa campanha, divulgue a que você acha legal, a que você colabora. Mas sem vincular a esta ou qualquer outra. Simplesmente divulgue, incentive, jogue um balde na cabeça, pendure uma melancia no pescoço, pinte a cara de azul. Faça o que quiser. E deixe os outros fazerem o que lhes agrada.
Por um mundo com mais solidariedade e menos patrulhamento da vida do outro.

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